segunda-feira, 1 de junho de 2009

Transformação do lixo em arte: Cooperaacs

Em tempos de aquecimento global e conscientização ambiental, o trabalho de cooperativas de reciclagem de lixo tem ganhado destaque. E para o Arte em Feltro, mais destaque ainda quando a forma de reciclagem desse lixo é feita através da arte.

A Cooperacs, ou Cooperativa de Arte Alternativa e Coleta Seletiva, fo criada em 2004, ao iniciar seu trabalho de transformação social por meio da arte e da coleta seletiva. Seu primeiro trabalho foi a decoração natalina da fachada do Conjunto Nacional, localizado na Avenida Paulista em São Paulo.



Localizada na Rua Serra do Jairé, 597, no bairro do Belém, São Paulo, a sede da Cooperaacs é um grande galpão, onde materiais reciclados se misturam com a arte que surge no meio do lixo. O cheiro de tinta é característico, misturado com os perfumes dos incensos que o supersticioso coordenador e artesão-mestre Sandro Rodrigues gosta de espalhar pelo ambiente.

Bruna:
Como e quando surgiu a Cooperaacs?
Sandro:
Nosso trabalho se iniciou em 2004. No início éramos apenas conhecidos que gostávamos de trabalhar com arte e buscávamos uma fonte de renda que nos auxiliasse e ao mesmo tempo fosse um trabalho ambientalmente correto.

Bruna: Vocês sempre trabalharam neste galpão?
Sandro:
Não, no começo eram nossas casas os nossos locais de trabalho. Mas aquilo foi crescendo e logo alugamos um outro galpão no Campo Limpo. Em 2006 viemos para cá (Belém).


Bruna: Quantas pessoas fazem parte do grupo?
Sandro:
Varia muito. Na época em que fizemos “Uma aventura Quixotesca” trabalhamos com mais de 25 pessoas. Hoje, muitos saíram do grupo, por não conseguirem manter uma rotina de responsabilidade e trabalho, ou por ter entrando em outro ramo de trabalho. Hoje contamos com 14 colaboradores no total

Bruna: Qual foi a exposição que lhes renderam mais evidência na mídia?
Sandro:
O trabalho feito anualmente da cenografia de Natal no Conjunto Nacional nos trouxe bastante evidência. Mas a exposição do Dom Quixote, em comemoração aos 400 anos do livro, com certeza, é o nosso trabalho mais famoso.


Bruna: E é também o que você se recorda com mais carinho?
Sandro:
Tenho muito carinho por todos os materiais que fazemos, mas eu tenho guardado um boneco do menino Jesus, feito em resina reciclada, que fazia parte do Presépio que fizemos para o Natal de 2005 no Conjunto Nacional.


Bruna: Você, como artesão há mais de 10 anos, considera importante aprender o ofício antes de tentar se iniciar na reciclagem em grandes cooperativas como a Cooperaacs?
Sandro:
Nosso trabalho é um processo demorado, que demanda técnica, por isso os cursos se fazem necessários. E não são todos que estão aptos a enfrentar a rotina da transformação do lixo. O material com que trabalhamos é agressivo, de baixa qualidade, por isso é importante terem pessoas qualificadas para extrair do rude a delicadeza.

Bruna: Qual a fonte de renda da Cooperaacs?
Sandro:
A Cooperaacs não vende seu lixo para a transformação de novos insumos, mas sim recria esse lixo para a venda de decorações. Nós vendemos nossas exposições.

Também conversamos com Marcelo Santos Faria, colaborador da Cooperaacs.


Bruna: Há quanto tempo trabalha na Cooperaacs?
Marcelo:
Estou na Cooperaacs há dois anos e meio. Entrei aqui a convite de um amigo que fazia parte do grupo na época.

Bruna: Você já havia trabalhado com artesanato antes de entrar na cooperativa?
Marcelo:
Não, mas era catador de lixo. Desde que fiquei desempregado, há 07 anos, venho ganhando meu sustento pela coleta do lixo, mas não gostava do meu trabalho. Quando cheguei aqui minha vida mudou.

Bruna: E como ela mudou?
Marcelo:
Eu era dependendo químico, alcoólatra, mas fazer parte da Cooperaacs me fez sentir útil, estar vivo. A convivência em grupo, as risadas, e a transformação daquilo que era “feio” se tornando belo, é mais ou menos como aconteceu em minha vida.

Bruna: Como você poderia descrever seu trabalho na Cooperaacs?
Marcelo:
Acabo me confundindo entre trabalho e hobby. Já não sei mais diferenciar as duas coisas. Como eu disse, é uma grande satisfação ver a transformação do que era lixo em objetos tão belos. E ainda perceber a reação das pessoas quando descobrem que todos aqueles bonecos, cenários, são feitos do lixo, daquilo que seria descartado. Isso faz valer nosso trabalho.

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